O Correio

Fazer de um problema, uma solução. Assim fez o comerciante Emerson Fernandes, 43 anos, após fechar a sua banca de revistas dentro de um hospital por causa da pandemia do novo coronavírus em Salvador. Aproveitando que a busca por máscaras aumentou, ele passou a investir neste ramo. Um decreto assinado pelo prefeito ACM Neto já obriga os supermercados a fornecerem máscaras para todos os seus funcionários, mas a partir desta quinta-feira (23) a gestão municipal orienta que clientes também frequentem estes espaços com a proteção no rosto.

Antes mesmo da orientação entrar em vigor, neste feriado de Tiradentes (21), já tinha estabelecimentos endurecendo as medidas de combate ao vírus e obrigando os clientes a usarem os equipamentos de proteção. Ao saber disso, Emerson aproveitou o feriado de Tiradentes, celebrado nesta terça (21) e foi até um desses mercados, o Mix Opção, no bairro de Costa Azul, para vender as máscaras. “Vi a oportunidade de não sair com tanto prejuízo. Apostei e está dando certo. As pessoas estão sendo impedidas de entrar sem máscaras para fazer compras e vêm até mim, aí faço um preço bacana”, disse ele, que estava dentro de seu carro, que funciona como uma loja – nos vidros havia cartazes anunciando a promoção: três máscaras por R$ 10.

Emerson disse que começou a trabalhar às 8h e, apenas duas horas depois, já tinha vendido 10 kits, sendo cinco deles para pessoas que foram impedidas de entrar no Mix Opção. “Tinha um grupo querendo entrar, mas funcionários não deixaram. Eles estão bem rigorosos com isso. Então, algumas pessoas foram embora, outras compraram em minha mão. Não é um dinheiro que vai resolver os meus problemas, afinal, tive um prejuízo de R$ 4 mil com a banca fechada, mas pelo menos o dinheiro vai dar para pagar algumas contas”, disse ele ao CORREIO.

Durante entrevista, uma cliente comprou dois kits com Emerson antes de seguir para o supermercado. “Realmente temos que nos proteger e qualquer lugar hoje faz medo se estivermos sem as máscaras. Estou aproveitando para comprar e levar também para a família toda”, declarou a aposentada Maria Conceição dos Santos, 63.  Já com a máscara no rosto, a aposentada passou tranquilamente pelos seguranças e foi abordada somente por um outro funcionário, que lhe ofereceu álcool em gel. Mas nem todo mundo concorda com atitude do mercado. “Há poucos instantes um homem quis brigar porque queria entrar de qualquer jeito sem a máscara. Foi preciso reforçar a segurança para que ele desistisse e fosse embora”, contou o chefe da fiscalização da loja, Cláudio Márcio Matos Brandão.

Na região da Suburbana, o CORREIO encontrou também mercados permitindo a entrada de clientes somente com uso de máscaras. Assim como Emerson, outras pessoas aproveitavam aoportunidade para garantir uma graninha extra. Em Periperi, na porta de um mercadinho, um ambulante anunciava: “Vendo máscaras, preço bom. Tem de R$ 4 e R$ 2”. Abordado pelo CORREIO, ele justificou os valores. “As de R$ 4 são as de algodão. As outras são mais baratas porque o tecido é mais fino e, por incrível que pareça, é a que vende mais, porque as compram apenas para entrar no mercado, que proíbem o acesso de quem está sem a máscara”, explicou Maicon Alves dos Santos, 34.

Em Paripe, a microempresária Geise Maria Conceição Oliveira, 35, montou uma banca para vender máscaras em frente ao supermercado Atacadão Rede Mix. Dona de um salão de beleza e de uma loja de roupas femininas no bairro, encontrou na venda do item de proteção contra à covid-19 a chance de minimizar o prejuízo. “Estou com os meus dois estabelecimentos fechados e a fiscalização está forte. Não tive outro jeito. Preciso ganhar dinheiro e graças a Deus está dando pelo menos para garantir o que comer. Montei a banca na frente do mercado e está dando certo. Geralmente quem está comprando na minha mão, usa a máscara para ir ao mercado”, disse ela, que vende três unidades por R$ 15.

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